"Em final de legislatura, parece que tentam levar a plenário no último mês tudo o que não conseguiram aprovar no decorrer dos quatro anos de mandato, como se fosse uma cartada final", avalia o diretor do Instituto Ágora, Gilberto Palma. Entre os projetos contrários à Lei Orgânica, por exemplo, há o do vereador Senival Moura (PT) que desobriga as mulheres gestantes a passar pela catraca de transportes públicos municipais. Ou o do vereador Ademir da Guia (PR), que pretendia a obrigatoriedade de se reproduzir o símbolo da Bandeira Nacional nos uniformes dos estudantes das escolas municipais
"Eles sabem que não podem aprovar certos tipos de projetos. Isso é competência do Executivo. No entanto, insistem em aprovar medidas com o argumento de que fizeram algo, mas que o prefeito é culpado por tê-lo vetado", avalia o pesquisador Flávio Tito Cundari, também do Instituto Ágora
Foram motivos ainda para vetos regras que legislam sobre questões já aprovadas pela Casa (15%), como proposta do vereador Adilson Amadeu (PTB) que dispensa os motoristas de táxi do uso de cartões da Zona Azul por até 30 minutos, e impedem a demanda de recursos financeiros não previstos no Orçamento municipal (12%), a exemplo do projeto do Dr. Farhat (PTB) que pretendia dispor para mulheres ônibus exclusivos no sistema de transporte paulistano
O levantamento aponta que, no ano passado, de 178 projetos aprovados pelo Legislativo, 48% foram vetados pela Prefeitura. Sem votar nenhuma proposta entre agosto e novembro, os vereadores aprovaram 38,5% delas no primeiro semestre, deixando 61,5% para o final do ano. "Em tão pouco tempo, é difícil avaliar tudo o que votaram", critica Cundari
Projetos ilegais
Procurados pela reportagem, alguns vereadores alegaram que falta mais cuidado e suporte jurídico aos parlamentares na elaboração dos textos, explicação sobre a qual o diretor do Instituto Ágora discorda. O levantamento da AE também apurou quais os vereadores tiveram mais projetos vetados. No topo da lista, estão os parlamentares Paulo Fiorilo (PT), Dr. Farhat (PTB) e Carlos Neder (PT), com três vetos cada
O vereador do PTB alegou que os seus projetos não são ilegais, uma vez que tiveram pareceres favoráveis da Comissão de Constitucionalidade da própria Casa. "Os projetos são legais. O problema é que o Direito admite mais de uma interpretação para um mesmo projeto de lei", defende Farhat. "Falta à assessoria jurídica do Executivo ser menos hermética e rigorosa." Ainda para o vereador, falta um maior entendimento entre as assessorias jurídicas da Câmara e do Executivo para que os projetos sejam mais bem discutidos
Fiorilo, do PT, alegou que seus projetos não são ilegais e culpou o Executivo por boicotar as ações da oposição. "Nem sempre o argumento do veto, publicado no Diário Oficial, é real. Muitas vezes o argumento é só de aparência pública, contrariando os interesses públicos", afirmou. "O governo não está só boicotando a oposição, mas também a cidade.
Neder, também do PT, afirma que os seus projetos são legais, mas discorda que o responsável pelos boicotes seja o embate entre governo e oposição. "A questão é entre Executivo e Legislativo. Projetos da base de apoio do prefeito também são vetados", disse o petista. "O prefeito passa por cima dos parlamentares e veta o que bem entende. Será que a Câmara não costuma ser mal avaliada pela população porque não se dá o devido respeito aos seus vereadores?" Nenhum dos três vereadores que tiveram mais projetos vetados foi reeleito nas últimas eleições municipais.
Fonte: Correio Brasiliense
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